CUIABÁ/MT – Pandemia muda estratégias

30 de abril de 2021

Atentas aos quadros de transtornos dos trabalhadores, empresas implantam assistência

 

A pandemia do coronavírus trouxe uma alteração na rotina trabalhista e as mudanças resultaram, muitas vezes, em episódios de estresse elevado, ansiedade e até mesmo depressão. Inclusive, em Mato Grosso, no ano passado, foram pelo menos 1.748 pessoas que receberam benefícios por incapacidade temporária por alguma dessas doenças, de acordo com determinadas identificações feitas pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Esse número representa 8% a mais do que as concessões de 2019. O cenário deixou clara a necessidade de investimento na saúde mental do trabalhador e algumas empresas voltaram seu olhar para essa demanda.

 

O assunto vem à tona na véspera do Dia do Trabalhador, neste sábado (1º). Direcionar os trabalhadores para o ‘home office’ trouxe novos desafios, que logo foram sentidos pelos colaboradores. Alguns deles foram se apresentando gradativamente ansiosos ou estressados.

 

Para ir contornando esses desafios, Élida Pereira Jerônimo, sócia e gerente de uma empresa que atua no setor previdenciário, precisou adotar algumas medidas. Dentre elas, está a reunião diária com os líderes de equipe e os colaboradores para debater as dificuldades que estão sendo enfrentadas e como solucionar isso da melhor forma possível.

 

Em Cuiabá, Trabalho e saúde mental Pandemia muda estratégias Atentas aos quadros de transtornos dos trabalhadores, empresas implantam assistência Natália Araújo Redação natalia@gazetadigital.com.br são 200 funcionários e há mais 100 espalhados pelo país. Quinzenalmente, há encontro remoto com uma psicóloga que ouve os trabalhadores e também debate com o grupo os mais variados temas que promovam o crescimento pessoal e profissional.

 

Jerônimo conta que há também um incentivo de interação por meio do sistema interno da empresa, para que os colaboradores conheçam os demais que compõem o time. Isso porque há pessoas que estão em atividade presencial, mas outras se mantiveram em home office. “Temos uma repercussão muito boa, tanto que a produtividade aumentou”, destaca a empresária. Do outro lado dessa ponte, está Júlio César Gama Rossi.

 

O colaborador avalia que esse suporte emocional é muito positivo. O rapaz conta que inclusive passou por uma perda familiar, não relacionada à covid19, e esse apoio no trabalho foi um dos pontos importantes no processo de luto. “Essas medidas são muito positivas, ajudam a não perder a cabeça em meio a tudo isso”, frisa. Saúde mental A psicóloga organizacional Tenylle Nolasco comenta que a saúde mental implica em muito mais do que apenas a ausência de doenças mentais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é um estado de bem-estar, no qual a pessoa é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. Nessa questão de produção, a especialista lembra que o foco das empresas é a busca por resultado.

 

Essa cobrança pela agilidade e rentabilidade gera uma pressão no ambiente de trabalho. Durante esse período pandêmico, isso se intensificou, por conta do isolamento social, a incerteza da estabilidade no emprego. Nolasco avalia que esse quadro é preocupante porque um ambiente profissional negativo pode gerar diversos problemas. “A pandemia acontecendo, a competitividade em alta, pessoas não engajadas são alguns pontos que deixam os colaboradores com alto nível de ansiedade, estresse e, assim, perdem sua produtividade e seu foco, podendo até mesmo gerar depressão”, explica.

 

Com esse tipo de problema, os funcionários tendem a faltar e a se afastar da atividade laboral, ou a produtividade cai, as relações interpessoais oscilam, como elenca Nolasco. Isso reflete na dinâmica e também no quadro financeiro da empresa. Portanto, o investimento no cuidado com o funcionário é um ponto a ser considerado. Há medidas simples a serem adotadas que já trazem resultados, indica a psicóloga.

 

Como, por exemplo, a flexibilização de horários, a criação de projetos saudáveis com dicas de cuidado com alimentação, exercícios, melhora da comunicação com a equipe por meio do diálogo constante. Em um cenário ideal, Nolasco frisa que a presença de um psicólogo traria ainda mais benefícios, pois o profissional é capaz de identificar possíveis transtornos.

 

A atuação poderia ser online, mas o importante seria estar disponível para fazer o acolhimento do trabalhador. “Um colaborador feliz e saudável mentalmente é mais propenso a prosperar na vida pessoal e no trabalho”, diz a psicóloga. “A empresa que se importa com esse aspecto (saúde mental), que toma medidas preventivas e ações, tende a apresentar resultado e até mesmo evoluir”, complementa. Outras iniciativas O Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Calçados e Couros de Mato Grosso (Sincalco) implantou um projeto que disponibilizou dois psicólogos para atender os funcionários das empresas sindicalizadas. “A ideia surgiu após conversar com lojistas e colaboradores que relataram o aumento de casos de depressão, ansiedade e estresse”, explica Junior Macagnam, presidente do Sincalco. A iniciativa está em vigor há um mês e já teve 43 atendimentos. Macagnam informa que o projeto estará em vigor enquanto durar a necessidade do serviço.

 

O Serviço Social da Indústria (Sesi-MT) também oferece aos trabalhadores da indústria o atendimento com equipes de especialistas na área de psicologia. “Nossa missão enquanto Sesi é também o de cuidar da saúde e promover a qualidade de vida do trabalhador, e isso passa pela saúde mental”, afirma a superintendente do Sesi MT, Lélia Brun.

 

 

Fonte: www.gazetadigital.com.br

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